Um sorriso na multidão |
Em segundo lugar, preciso dizer a quem fez o comentário que ele é uma pessoa sensata, porque conseguiu fazer de sua vida algo diferente daquilo que lhe impuseram. Apesar de gostar de “coisas de macho”, conseguiu desenvolver também seu lado delicado e gentil.
Feito inicialmente os esclarecimentos, vamos ao comentário, sobre o qual faço as ponderações item a item:
“Um homem que possui gostos e prazeres inclinados ao "mundo dos machos", como lutas, futebol, mulheres, azul...”
Pavão-macho exibindo o rabo para conquistar a fêmea |
Gostar de azul, futebol, lutas e mulheres não é o problema. O problema é quando um homem não gosta de futebol, mas de balé; quando prefere o rosa e não o azul; quando curte teatro e não lutas. Esse cidadão geralmente é excomungado, ou sofre bullying, ou é rejeitado pelo grupo de rapazes que não curtem o que ele curte. Daí, o indivíduo é forçado a viver fora do grupo. Não gostar de lutas, futebol, mulheres, azul não significa que ele seja gay (ou pode significar que sim), mas as pessoas já assumem que sim.
Eu me lembro da minha primeira camisa rosa: de botões, corte formal, quase uma camisa social. Á época, eu devia estar com uns 20 anos. O que todos sempre me perguntavam era se eu teria coragem de usá-la. Sim, usei várias vezes, até que ela se desgastou. A cada vez, sempre recebia uma piadinha: “onde comprou tinha pra homem?”. Hoje tenho 50 e as coisas mudaram um pouco... mas ainda ouço essa pergunta muitas vezes...
Torcida - punhos em riste! |
Gostar de luta só é problema quando o sujeito acredita que homem que é homem tem que ser violento, tem que arrancar sangue, como os lutadores (na hora da luta, porque fora delas, geralmente são gentis). Sim, existe gente que se junta em bandos para sair dando porrada por aí, seja no meio de torcidas de futebol, seja em gays que encontram pela rua...
“Não necessariamente é machista, homofóbico, estuprador...”
e depois
“Entendo como equivocada, essa abordagem ao machismo ou ao homem.
Essa associação de machismo com o estupro ou homofobia... me parece uma generalização radical demais e, principalmente, ofensiva demais num momento em que buscamos igualdade dos gêneros e respeito acima de tudo. É uma abordagem antagônica ao objetivo buscado. É confuso!”
Acredito que você se diz “entendo como equivocada” referindo-se ao título do post (como se forma equivocadamente...). Considere que o post, como esclarecido acima, trata de agrupamentos, não de generalizações. É certo que ninguém é igual, nem todos os machistas são homófobos (embora muitos sejam, sem perceber) ou estupradores (aliás, poucos são). Justamente por continuar ocorrendo nos dias de hoje é que é antagônico ao objetivo buscado...
Precisamos separar isso aí: machista é machista, homófobo é outra coisa; estuprador, então, não tem nada a ver. Embora, nos três casos, trata-se do problema da formação equivocada (como disse no post anterior), não são de forma alguma a mesma coisa. O primeiro é fruto de uma sociedade que acha que lugar de mulher é em casa, cuidando do marido e dos filhos... O segundo, é o ódio a homossexuais (e semelhantes), geralmente insuflado por religiões ou por uma formação tradicionalista conservadora. O último, infelizmente, refere-se a pessoas doentes, que não conseguem aceitar um não no momento em que desejam fazer sexo, e o fazem a qualquer custo.
Porém, numa sociedade em que a cultura do machismo impera, se uma pessoa é um “macho exacerbado”, é fácil ser levado aos outros adjetivos...
Policiais exacerbando macheza |
Homofobia é parecido com racismo... Se você acha que gay não é normal, se você acha que gay não pode casar, isto é, não pode ter os mesmos direitos que qualquer cidadão, se você acha que gay não pode constituir família, pelo contrário, se acha que gay destrói a família (principalmente porque não geram filhos), então, me desculpe, você é homófobo. Homofobia não é só a agressão física contra gays, lésbicas e transgêneros, é a rejeição e intolerância com sua existência.
O estupro é a efetivação do ato sexual sem o consentimento de uma das partes, ou se uma das partes for menor de idade. Porém, muita coisa que não é considerada estupro deve ser considerada como “cultura do estupro”, por não respeitar o “não”: filmar uma pessoa nua ou em ato sexual e depois divulgar essa imagem é um ato de covardia com quem foi filmado; olhar uma pessoa tomando banho pelo buraco da fechadura é invadir a privacidade de quem se banha; ficar pressionando membro ereto em uma pessoa que não está gostando nada disso em um trem lotado (ou ônibus, ou metrô) é um abuso (uma realidade tão constante em nossa cidade, que foi necessário criar “vagão só para mulheres” na hora do rush). Se você acha que uma mulher que já tenha feito sexo em grupo é a culpada de ser estuprada por um grupo (porque, quem procura, acha), então, você está inserido na cultura do estupro.
“Venho batendo nesta tecla desde que comecei a ler as opiniões posteriores ao estupro coletivo que ocorreu recentemente. Me senti ofendido em diversas oportunidades mas preferi ficar calado pra não gastar minha saúde.”
Não se cale. Grite no meio da multidão: eu não sou assim! E mostre ao mundo que não existe só machismo, mas também outras formas de masculinidade. Essa é a proposta deste blog.
“A abordagem dos temas, principalmente do Estupro, me parece muito próxima ao incentivo ao uso de preservativos. Longe da realidade, ao me ver.
Não é falando ‘o estupro é errado’, que conseguiremos algo efetivo.”
Exatamente, por isso não falo em estupro no blog. Acho que não tem nada a ver. O meu papo é falar sobre masculinidades... no plural, porque existem várias maneiras de ser homem, sem ser “o macho”.
“A tentativa de vincular o estupro ao machismo, me incomoda.”
Novamente o uso da palavra machismo poderia ser trocada por masculino, pelas razões já expostas...
“Da mesma maneira que acredito que um homossexual não sofre influências pra se tornar homossexual, acredito que o estuprador não sofre influências pra se tornar estuprador. O estupro tem que ser vinculado à pessoas ruins, que sentem prazer com um ato tão absurdo.”
Gay é condenado a 450 chibatadas na Arábia Saudita, em 2014. |
Estuprador é obrigatoriamente uma pessoa ruim (um doente mental, na minha opinião). Já homossexuais podem ser bons, ou maus, há de todo o tipo, como qualquer outra pessoa, porque são pessoas normais.
“O estupro, pra mim, definitivamente não tem ligação com um ‘macho alfa’ ou com o ‘pegador de mulheres’ ou com o ‘admirador de UFC’.”
Cuidado com os termos, leia o que escreve antes de publicar... “pegador de mulheres”?? Então mulher é um objeto que homem pega? Isso é uma das provas da existência do machismo (exacerbado)! Acredito que você se referia a “homem que gosta de mulher”, ou a “heterossexual”...
Macho alfa também é um termo que vem do reino animal... os ‘machos alfa’ são aqueles vencem os demais machos do bando por serem mais fortes e que as fêmeas selecionam para ter suas crias, pois acreditam que, por serem mais fortes, darão filhos mais fortes, uma lei de sobrevivência na selva. Entre nós, que não somos selvagens, o termo é cunhado para realçar essa ideia de há um homem que se destaque entre os homens (um homem mais homem)... geralmente associado à questão machista, porque ele “vence os demais para conquistar a fêmea” e a fêmea, é claro, passa a ser “sua”. O sentimento de posse no homem é um sentimento machista. A mulher não pertence ao homem, estamos lutando pela igualdade de gênero.
Puxada de quimono! |
“Eu sou heterossexual, gosto do azul, apaixonado por futebol, apaixonado por artes marciais, já fui "pegador" quando adolescente, tenho um pai machista... e, ao mesmo tempo, uma das pessoas que mais admiro e que influenciou muito em minha vida, é gay (um tal de "O Homem na Garrafa"), acho que é o homem que tem que pagar o jantar romântico, acho que é o homem que tem que pagar o motel, tenho repúdio à estupradores...”
Novamente não podemos confundir as coisas: gentileza gera gentileza. Pagar uma conta pode ter dois lados. Se convido alguém (seja minha namorada, esposa, etc. ou um amigo, ou minha mãe), decido pagar a conta por gentileza. Porém, pagar a conta não é obrigação do homem. Se uma mulher ganha mais do que o marido, não há problema algum se ela pagar a conta. É preciso equilíbrio. Se o homem ganha pouco e tem que pagar a conta da mulher, que ganha muito muito mais que ele, ele ficará sem dinheiro... e ela? Guardando o dinheiro? Ou gastando só com ela? É preciso ter muita consciência do que se faz pelo outro. O ideal é a sensatez mesmo, ou, em última instância, cada um que arque com sua própria despesa.
Vale lembrar que pagar todas as contas da mulher era uma obrigação do homem na época em que mulher não trabalhava fora e dependia dele... Homem não aceitar que a mulher pague hoje em dia é ficar amarrado numa estrutura social ultrapassada. Porém, se você acha que isso é o que deve ser, ninguém vai te recriminar por fazer (só recriminam quando é a mulher quem paga). Aliás, as mulheres adoram... eu também adoraria que alguém pagasse as minhas contas...
Acho que repúdio a estupradores toda a sociedade (que não é estupradora) tem.
“O estuprador irá estuprar, sendo ele educado ou não, ela estando de roupa curta ou longa, sendo ele machista ou não, havendo punição ou não. O estuprador irá estuprar, porque ele é ruim.”
Exatamente. Mas, se ele tivesse tido uma educação mais flexível, bem orientada, menos machista, haveria a possibilidade de ele aprender que quando não se pode impor o seu desejo sexual a quem quer que seja.
“Enquanto a abordagem a este tema for relacionada à forma de acabar com o estupro, nada será efetivo, pois isso, infelizmente, não acontecerá. Quando a abordagem for relacionada a maiores punições, a maiores denúncias por parte da vítima... aí sim, teremos algo efetivo.”
Sim, punição severa para eles! Porém, uma proposta de educação, principalmente daquela primeira formação (a dos pais), somada a um projeto organizado para uma mudança de mentalidade, como fez o movimento feminista com relação aos direitos das mulheres, seria muito mais efetivo.
“Em tempo, sei que sua publicação não é relacionada ao estupro diretamente, mas a leitura me levou a este tema.”
Isso mesmo, não quero ficar falando de estupro, mas tentando aconselhamentos sobre a possibilidade de novas formas de masculinidade, a quem interessar possa!
quando li o comentário no post anterior pensei que era mais um equívoco em relação a definição de machismo. Como se machismo fosse ser homem/hetero/ativo. Quando há tb mulheres e gays machistas. Machismo, pra mim, é tentar colocar a mulher numa posição inferior. Não lhe respeitado o valor e espaço. E tb o gay, por lhe atribuir um papel feminino.
ResponderExcluirTenho uma diferença ou outra em relação a algumas posições e conceitos que vc explanou neste post. Não vou comentar ponto por ponto pq seria escrever outro post.
Em síntese é - vamos respeitar o outro. Seja mulher, gay ou homem. Até pq não ter gosto tido de macho (que são conceitos construídos) não significa não ser hetero/ativo.
E vamos respeitar as mulheres (e não só) e saber que não é não. Se não quer fazer sexo, não tem pq forçar. Esteja ela de roupa, sem roupa... (este é um dos pontos que discordo - não acho que estuprador, necessariamente, é um doente mental. é um desvio, mas daí taxá-lo como louco é um caminho cômodo para lhe tirar a responsabilidade do ato. Principalmente, quando é sabido que grande parte dos abusos acontecem em casa - pelo marido, pelo pai, pelo tio, vizinho... alguém das relações familiares ou sociais).
então, está mais do que na hora do homem fazer a revolução masculina e assumir um novo papel.
Concordo com você em gênero, número e grau. Talvez alguns pontos tenham ficado meio fora do eixo, porque é uma resposta a alguém que conheço pessoalmente, e sobre estupro, o que não é a minha proposta no blog. Mas não me referi a louco quando disse doente mental. Louco é portador de necessidades especiais... Um estuprador não é isso. Chamo de doente, porque não consigo assimilar que alguém mentalmente (e emocionalmente) são faria uma animosidade dessas. Enfim, um doente precisa se tratar e o melhor tratamento é uma verdadeira mudança de mentalidade. Como você diz, é preciso assumirmos que uma nova masculinidade, mais sensível, mais feminina, se faz necessária (e retomei o blog para trazer uma colaboração discursiva para a discussão).
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