domingo, 4 de dezembro de 2016

Para um bom entendedor...

Não gosto de textos/falas que desqualifiquem pessoas, ou coisas. Os textos, ao serem ditos, permitem a construção de uma imagem de quem está dizendo e não gosto de textos arrogantes, porque são portadores da arrogância de quem os diz.

Uma vez um professor de literatura disse que Mia Couto (escritor moçambicano) não chega a ser um Guimarães Rosa... "não chega a ser" significando que a obra de Mia Couto era inferior à de Guimarães Rosa. Mas como comparar esses dois autores? De épocas tão diferentes, países tão diferentes? Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Fernando Pessoa, James Joyce tiveram seus estilos próprios, muito peculiares. Mia Couto assume a influência de Guimarães Rosa, assim como Guimarães Rosa assumiu a influência de James Joyce. Embora seja possível traçar semelhanças estéticas, cada um tem sua particularidade. São autores distintos, contextos históricos distintos, temas distintos, qualidades distintas.

O que o tal professor pretendia, de fato, era ressaltar sua alta qualificação literária como uma patente que lhe autoriza expressar o desdém - um discurso de autoridade. Pois, saiba ele, não conseguiu atingir o seu objetivo, uma vez que esse lugar ele deixou de ocupar no meu mais simples – mas não simplório – entendimento do que é literatura. Ele quis aproveitar a oportunidade e acabou por perder a patente que poderia ter conquistado...

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Linguagem e violência simbólica, contribuições ao debate

"[A] linguagem nos faz seres instáveis,
daí que é impossível não sermos
afetados pela palavra do outro. Essas
palavras perturbam a condição
narcísica que é condição estrutural do Eu.
(...)  [T]udo que não pode ser
questionado ou que não é assimilado
por um processo interno de reflexão
exige do sujeito uma crença delirante."
- trechos do texto postado no FB
por Marcelo Veras


O post de hoje vem das contribuições de um amigo (talvez único) leitor deste blogue... Ele me marcou no post “Como ensinar (o) mal - ou, tomando partido” no Facebook (FB) de Marcelo Veras e no vídeo “o texto baba” de Suely Rolnik. Ambos abordam o fato de que somos atingidos pela linguagem, numa perspectiva psicanalítica. Faço aqui considerações breves, porque não é minha área de estudo, motivo pelo qual já peço desculpas.

A psicanálise, cuja criação é atribuída a Freud, é baseada na linguagem. Em linhas gerais (e rasas), consiste em falar (embora ao falarmos também nos ouvimos), da parte do paciente, e ouvir e analisar (análise não deve ser confundida com interpretação), da parte do psicanalista. Lacan disse que a mente está estruturada como uma linguagem. O vídeo e o post demonstram, por razões diferentes – o vídeo, para explicar um conceito objeto de um seminário (o texto baba/novos povoamentos); o post, para criticar as leis que tentam impor a “escola sem partido” (minúsculas minhas) –, a influência da linguagem sobre nós, da importância da fala (e, acrescento, de outras formas de linguagem) do outro tem sobre nós.

Clique para assistir ao vídeo "Suely Rolnik e o texto baba"

Na minha área de estudos – a Análise do Discurso (de linhagem francesa) – muitas vezes lançamos mão de conceitos da psicanálise para fundamentarmos alguns aspectos da análise discursiva. Apesar de serem um tanto técnicos,  eu recomendo a leitura das duas indicações de meu amigo sapoprincipe, porque são [texto e vídeo] claros: o post do FB ressalta a importância da linguagem nas manobras do governo para evitar a formação de seres pensantes; o vídeo sobre o “texto baba” nos revela que o corpo tem uma linguagem própria, que ao subjugarmos esse fato, perdemos a noção de sua existência e dimensão.

Em algum post futuro, volto ao assunto, numa abordagem discursiva. Até lá.

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Da violência simbólica: a linguagem




https://www.youtube.com/watch?v=H3ikWYyUHrI
 Entre eu e você existe
A notícia que nos separa
Eu quero que você me veja nu
Eu me dispo da noticia
E a minha nudez parada
Te denuncia e te espelha
Eu me delato
Tu me relatas
Eu nos acuso e confesso por nós
Assim me livro das palavras
Com as quais
Você me veste.

- trecho do texto de Fauzi Arap


Somos seres de linguagem. Nomeamos coisas para poder dizê-las, recebemos nomes para que possam se referir a nós. O que não pode ser dito, não existe, precisamos dizer as coisas para compreendê-las. Judith Butler (1997)* diz que um xingamento nos ofende porque somos seres de linguagem. E, se nos ofende, isso significa que a linguagem nos afeta, que o dizer é um ato que chega até nós no que temos de mais íntimo. Mesmo que não se tenha a intenção, um comentário pode, involuntariamente, ofender. Butler tenta traçar uma análise aprofundada sobre os limites entre a liberdade de expressão e o crime de injúria. O propósito dela é jurídico, vale a pena a leitura do livro Excitable speech**. Aqui, porém, vou apenas ilustrar como a linguagem sempre nos afeta. E não é difícil entender.

Para dar um exemplo: num grupo de homens em que um dos membros é homossexual, mas os demais membros do grupo não sabem, certamente o assunto sobre mulheres surge em algum momento. Não que o homossexual vá se sentir excluído da conversa, mas certamente sentirá um deslocamento, como se tivesse do lado de fora da conversa, mesmo que se esforce para se manter no assunto. Ou, em nossa sociedade de ditames de beleza e de saúde, o simples fato de uma pessoa estar fora da curva faz com que tente se adaptar (eu, por exemplo, faço uma caminhada de 7 km por dia, porque um médico me disse que preciso perder 7 kg...). Uma mulher que tenta engravidar e não consegue, sente fundo quando ouve outras mulheres falando da facilidade com que engravidaram...

Uma pessoa que é diminuída verbalmente por alguém pode reagir, ou não. Muitas vezes, sequer percebemos que alguém nos está pondo pra baixo, repetindo que não somos capazes, ao longo de anos... e acabamos acreditando, assimilando, e a sensação de incapacidade acaba sendo inculcada em nós, inconscientemente. Conheço muita gente que se julga incapaz de passar no vestibular, porque os discursos criam uma aura de dificuldade em torno das provas. Conheço muita gente bonita que acredita que é feia, porque sua beleza não é a mesma que a da Gisele Bünchen. Uma fofoca pode construir o caráter de alguém, da mesma forma que pode acabar com ele.

Não temos como fugir, dominamos a linguagem na mesma medida em que a linguagem nos domina. Dessa forma, a linguagem é uma arma poderosa na violência simbólica. Precisamos tomar cuidado com ela.



* Judith Butler é filósofa americana e discute questões de gênero.

** BUTLER, Judith. Excitable speech: a politics of the performative. New York, NY: Routledge, 1997.

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Ideias (não)originais

A obra é de 1995, mas não tive contato com ela até hoje. Os desenhos feitos por Leandro Ferra sob encomenda para este blog são de 2005... À época, achei que tive uma ideia original.

Artista: Charles Ray
Título: Puzzle Bottle
Ano: 1995.
Acervo do Whitney Museum of American Art, New York

 
Artista: Leandro Ferra
Títulos: Homem na garrafa1 e Homem na garrafa 2
Ano: 2005 Acervo do Elir Ferrari, Vila Isabel, Rio de Janeiro

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Poesia numa hora dessas: Minha pele sua

Minha pele sua
de Elir Ferrari

Habito uma pele que é diferente da de outrora
da infantil ingênua, pele lisa e elástica
da púbere agitada, tangível e atenta
da adolescente rebelde, sensível e aguda

Habito uma pele endurecida e desgastada
pela vida, pelo tempo, pelo tento
pelas forças que me determinam
pelos muitos anos que já não tenho

A pele que habito não é minha
nunca foi, pois que eu supunha
ser aquela que outros me impõem

A pele que habito é a pele tecida
que imita, que simula, que insiste
que eu a habite.

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Da violência simbólica: tarefas do lar

Precisamos estar atentos à violência simbólica, porque ela não mostra a cara. É aquele tipo de coisa que não percebemos, até que um dia nos damos conta de que já fomos atingidos por ela e estamos atolados, nela, até o pescoço.

A violência física é fácil de ser identificada.  Um tapa, um chute, uma cotovelada são vistos e sentidos claramente. O assédio moral e/ou psicológico, ou ainda o assédio sexual, pode não ser tão evidentes, mas há aí algo de visível que permite sua identificação. Já a violência simbólica é invisível, porque não está na ordem do feito/agido, do dito ou do mostrado, mas do sensível. Ela perpassa as violências física, moral, psicológica e sexual, ela é aquilo que marca a pessoa de forma definitiva, porque é uma marcação na alma.

O que é, então, violência simbólica?  A violência geralmente surge em meio a uma relação de dominação/dominado (e o mundo é estruturado nessa relação). Nela, nossos ‘corpos socializados’ não percebem aquilo que não é natural, mas que está naturalizado nas práticas sociais repetidas constantemente. Aprendemos que cuidados com casa e filhos é coisa de mulher e trabalhar em uma empresa é coisa de homem. Se bem que hoje existem muitos homens que cozinham... mas são chefs. Geralmente cozinham para receber amigos, ou agradar a esposa. A comida do dia a dia, o arroz com feijão diário, a alimentação da família ficam a cargo da mulher. A própria casa é dividida em cômodos e áreas definidos pelo gênero: garagem e escritório são lugares de homem; cozinha e área de serviço, de mulher. É claro que as coisas estão mudando, mas nem tanto, nem há tanto tempo. Isso é só para ficar num só exemplo. Ao se dedicar no cuidado da casa, dos filhos e do marido, a mulher acaba não usufruindo de muita coisa (porque fica extremamente ocupada com suas tarefas “do lar”), uma delas é a falta de uma remuneração por um trabalho qualificado e a liberdade de usar o seu dinheiro da forma que melhor lhe convier. Muitos dirão, ah, mas se a mulher é casada com um homem honesto, carinhoso, atencioso, que não lhe deixe faltar nada, que lhe dá toda a liberdade possível? Ao menos sua independência e liberdade estará subordinada aos desejos desse homem, mesmo que seja afetuoso e dê liberdade total à mulher (homens raríssimos, ou inexistentes)... Qualquer falta de independência afeta o ser humano de forma – pra mais ou pra menos – violenta, não uma violência visível, mas uma que nos impede de existirmos como qualquer outro ser humano que possa gozar plenamente de seus direitos. Isso é tão naturalizado que sequer percebemos o quanto a mulher é colocada num lugar de desprestígio. (*)
Vendedora de rosas,
escultura em papel de Nane Ferrari

Tive recentemente bom exemplo do papel subordinado da mulher. Uma amiga que foi criada para ser independente, sequer aprendeu a cozinhar, lavar roupa ou fazer faxina. Formada em Engenharia Química, já trabalhando numa multinacional da indústria farmacêutica, entrou no mestrado, onde conheceu o grande amor de sua vida. Ele, formado em Farmácia, também trabalhando numa empresa da indústria farmacêutica... mas nacional. Tal como ela, não era dotado das prendas do lar. Estavam, pois, em pé de igualdade de gênero... Tão grande foi o amor, que se casaram.  Inicialmente, comiam fora e contrataram uma diarista para cuidar da limpeza da casa... Lavar roupas, era fácil, bastava colocar na máquina e depois pendurar. Mas, mesmo assim, com as despesas caras e planos de viagem e filhos, decidiram restringir os gastos. Adivinha quem aprendeu a cozinhar? Adivinha quem passou a chegar em casa e fazer uma faxina rápida, que depois foi se tornando obrigação? Acertou quem disse: ela! Embora ajude a colocar as roupas no varal,  ele sequer coloca as cuecas na máquina de lavar. Por que será? E olha que estamos em 2016...

(*) Todo o parágrafo foi inspirado em:
BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. 4. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Dica de leitura: Dom Casmurro

A dica de leitura de hoje é um livro já velho conhecido nosso: Dom Casmurro, de Machado de Assis.

 Particularmente, eu não gosto de Machado de Assis, apesar de reconhecer sua importância para o realismo brasileiro e saber que seu estilo, sua ironia. Sua forma de narrar agrada a muita gente. É apenas uma questão de gosto pessoal.

 Porém, Dom Casmurro me surpreendeu. Muito se fala sobre a estória e personagens (desculpem-me, detesto a recomendação pela grafia “história” mesmo para obras de ficção. Para mim, marcar a diferença entre história-ciência e história-ficção [estória] é imprescindível aqui), ou se Capitu traiu ou não traiu Bentinho, o que me parece não ter a menor importância no contexto geral da narrativa.

Trata-se de uma estória de ciúmes, como tantos outros livros ao longo da história. Mas há sutilezas desse ciúme que é diferente dos que estamos acostumado a ver [ler]. O texto é narrado, como tantos outros, pela perspectiva de um homem, mas é um amigo de infância que virou marido, e tudo se passa na cabeça de Bentinho. Tendo crescido juntos, ele julga conhecê-la mais do que ela a si mesma, saber suas intenções, seu jeito de olhar e agir. Fica a dúvida se tudo aconteceu por pura imaginação dele, ou não. Mas isso não importa...

A forma como Bentinho vai se tornando casmurro ao longo da estória, em função do ciúme - e o que ele faz com Capitu e seu filho - nos dão a dimensão exata de uma época em que a mulher não tinha qualquer direito e o homem era o senhor.

Não é uma narrativa machista, é uma estória sobre o machismo que nos faz pensar sobre os prejuízos que dele resulta. No final do livro, um desfecho que nos deixa [a nós, os homens] num vácuo, a refletir.

Para mim, foi uma estória angustiante, mas que serviu para me mostrar como não se deve ser. Vale a leitura!


quarta-feira, 15 de junho de 2016

Chapa quente! Ampliando o debate sobre a formação do homem...

Para manter uma boa linha de debate, faço algumas considerações sobre o comentário deixado por um (talvez o único) leitor deste blog.

Um sorriso na multidão
Preciso começar esclarecendo que todos os comentários no post Como se forma (equivocadamente) um homem não são generalizações, mas agrupamentos... Vale marcar a diferença: generalizações dizem respeito a todos, sem exceção; agrupamento refere-se a grupos, isto é, podem existir grupos assim, outros não. E todos os meus posts seguem esses conceitos, apesar de parecerem generalizações, faço apenas agrupamentos.

Em segundo lugar, preciso dizer a quem fez o comentário que ele é uma pessoa sensata, porque conseguiu fazer de sua vida algo diferente daquilo que lhe impuseram. Apesar de gostar de “coisas de macho”, conseguiu desenvolver também seu lado delicado e gentil.

Feito inicialmente os esclarecimentos, vamos ao comentário, sobre o qual faço as ponderações item a item:

“Um homem que possui gostos e prazeres inclinados ao "mundo dos machos", como lutas, futebol, mulheres, azul...”

Pavão-macho exibindo o rabo para conquistar a fêmea
Sobre esse primeiro parágrafo, só me incomoda a expressão “mundo dos machos”, pois ela traz o nome que deu origem à palavra ‘machismo’. Eu trocaria para “mundo dos homens”, que ficaria bem melhor. Macho, em si, reporta-se ao mundo animal (irracional) e talvez seja por isso – isto é, por um comportamento de animal irracional – que a palavra tenha servido de modelo.

Gostar de azul, futebol, lutas e mulheres não é o problema. O problema é quando um homem não gosta de futebol, mas de balé; quando prefere o rosa e não o azul; quando curte teatro e não lutas. Esse cidadão geralmente é excomungado, ou sofre bullying, ou é rejeitado pelo grupo de rapazes que não curtem o que ele curte. Daí, o indivíduo é forçado a viver fora do grupo. Não gostar de lutas, futebol, mulheres, azul não significa que ele seja gay (ou pode significar que sim), mas as pessoas já assumem que sim.

Eu me lembro da minha primeira camisa rosa: de botões, corte formal, quase uma camisa social. Á época, eu devia estar com uns 20 anos. O que todos sempre me perguntavam era se eu teria coragem de usá-la. Sim, usei várias vezes, até que ela se desgastou. A cada vez, sempre recebia uma piadinha: “onde comprou tinha pra homem?”. Hoje tenho 50 e as coisas mudaram um pouco... mas ainda ouço essa pergunta muitas vezes...

Torcida - punhos em riste!
Gostar de futebol só é ruim quando se coloca o futebol acima de tudo, ignorando o que está ao redor, desrespeitando quem não torce para o mesmo time (ou quem não torce para time algum). Sim, existe gente que “vive para o futebol” e, convenhamos, geralmente só gosta de estar com “outras gentes que vivem para o futebol”, e vivem juntos em barezinhos tomando cerveja, ou jogando pelada o tempo todo... Conheço um cara que viajou para ver a final da Eurocopa com a namorada. Ela quis ir a um museu, ver uma obra de Van Gogh. Sabe que ele fez cara de nojo e não foi... nem para acompanhá-la!

Gostar de luta só é problema quando o sujeito acredita que homem que é homem tem que ser violento, tem que arrancar sangue, como os lutadores (na hora da luta, porque fora delas, geralmente são gentis). Sim, existe gente que se junta em bandos para sair dando  porrada por aí, seja no meio de torcidas de futebol, seja em gays que encontram pela rua...

“Não necessariamente é machista, homofóbico, estuprador...” 

e depois
“Entendo como equivocada, essa abordagem ao machismo ou ao homem.
Essa associação de machismo com o estupro ou homofobia... me parece uma generalização radical demais e, principalmente, ofensiva demais num momento em que buscamos igualdade dos gêneros e respeito acima de tudo. É uma abordagem antagônica ao objetivo buscado. É confuso!”


Acredito que você se diz “entendo como equivocada” referindo-se ao título do post (como se forma equivocadamente...). Considere que o post, como esclarecido acima, trata de agrupamentos, não de generalizações. É certo que ninguém é igual, nem todos os machistas são homófobos (embora muitos sejam, sem perceber) ou estupradores (aliás, poucos são). Justamente por continuar ocorrendo nos dias de hoje é que é antagônico ao objetivo buscado...

Precisamos separar isso aí: machista é machista, homófobo é outra coisa; estuprador, então, não tem nada a ver. Embora, nos três casos, trata-se do problema da formação equivocada (como disse no post anterior), não são de forma alguma a mesma coisa. O primeiro é fruto de uma sociedade que acha que lugar de mulher é em casa, cuidando do marido e dos filhos... O segundo, é o ódio a homossexuais (e semelhantes), geralmente insuflado por religiões ou por uma formação tradicionalista conservadora. O último, infelizmente, refere-se a pessoas doentes, que não conseguem aceitar um não no momento em que desejam fazer sexo, e o fazem a qualquer custo.

Porém, numa sociedade em que a cultura do machismo impera, se uma pessoa é um “macho exacerbado”, é fácil ser levado aos outros adjetivos...

Policiais exacerbando macheza
Para saber se você é machista, faça-se uma pergunta: lava suas roupas, faz a faxina na sua casa, prepara a comida do dia a dia? Se não paga um empregado ou empregada que o faça, nem você faz, quem faz essas tarefas do lar? Se for sua mulher ou sua mãe ou sua irmã, se você não colabora, então, não dá para escapar... é machista. 

Homofobia é parecido com racismo... Se você acha que gay não é normal, se você acha que gay não pode casar, isto é, não pode ter os mesmos direitos que qualquer cidadão, se você acha que gay não pode constituir família, pelo contrário, se acha que gay destrói a família (principalmente porque não geram filhos), então, me desculpe, você é homófobo. Homofobia não é só a agressão física contra gays, lésbicas e transgêneros, é a rejeição e intolerância com sua existência.

O estupro é a efetivação do ato sexual sem o consentimento de uma das partes, ou se uma das partes for menor de idade. Porém, muita coisa que não é considerada estupro deve ser considerada como “cultura do estupro”, por não respeitar o “não”: filmar uma pessoa nua ou em ato sexual e depois divulgar essa imagem é um ato de covardia com quem foi filmado; olhar uma pessoa tomando banho pelo buraco da fechadura é invadir a privacidade de quem se banha; ficar pressionando membro ereto em uma pessoa que não está gostando nada disso em um trem lotado (ou ônibus, ou metrô) é um abuso (uma realidade tão constante em nossa cidade, que foi necessário criar “vagão só para mulheres” na hora do rush). Se você acha que uma mulher que já tenha feito sexo em grupo é a culpada de ser estuprada por um grupo (porque, quem procura, acha), então, você está inserido na cultura do estupro.

“Venho batendo nesta tecla desde que comecei a ler as opiniões posteriores ao estupro coletivo que ocorreu recentemente. Me senti ofendido em diversas oportunidades mas preferi ficar calado pra não gastar minha saúde.”

Não se cale. Grite no meio da multidão: eu não sou assim! E mostre ao mundo que não existe só machismo, mas também outras formas de masculinidade. Essa é a proposta deste blog.

“A abordagem dos temas, principalmente do Estupro, me parece muito próxima ao incentivo ao uso de preservativos. Longe da realidade, ao me ver.
Não é falando ‘o estupro é errado’, que conseguiremos algo efetivo.”


Exatamente, por isso não falo em estupro no blog. Acho que não tem nada a ver. O meu papo é falar sobre masculinidades... no plural, porque existem várias maneiras de ser homem, sem ser “o macho”.

“A tentativa de vincular o estupro ao machismo, me incomoda.”

Novamente o uso da palavra machismo poderia ser trocada por masculino, pelas razões já expostas...

“Da mesma maneira que acredito que um homossexual não sofre influências pra se tornar homossexual, acredito que o estuprador não sofre influências pra se tornar estuprador. O estupro tem que ser vinculado à pessoas ruins, que sentem prazer com um ato tão absurdo.”

Gay é condenado a 450 chibatadas
na Arábia Saudita, em 2014.
Opa, cuidado para não colocar homossexuais e estupradores no mesmo saco! Isso é perigoso. Entendi o que você quis dizer, que homossexuais são homossexuais e pronto, não foram influenciados por outros homossexuais... Assim como estupradores são estupradores e pronto! Mas muita gente comete o equívoco de associar os dois, uma vez que ambos passam pela questão da sexualidade. Muita gente acha que ser homossexual é um crime pior que ser estuprador... acredite.

Estuprador é obrigatoriamente uma pessoa ruim (um doente mental, na minha opinião). Já homossexuais podem ser bons, ou maus, há de todo o tipo, como qualquer outra pessoa, porque são pessoas normais.

“O estupro, pra mim, definitivamente não tem ligação com um ‘macho alfa’ ou com o ‘pegador de mulheres’ ou com o ‘admirador de UFC’.”

Cuidado com os termos, leia o que escreve antes de publicar... “pegador de mulheres”?? Então mulher é um objeto que homem pega? Isso é uma das provas da existência do machismo (exacerbado)! Acredito que você se referia a “homem que gosta de mulher”, ou a “heterossexual”...

Macho alfa também é um termo que vem do reino animal... os ‘machos alfa’ são aqueles vencem os demais machos do bando por serem mais fortes e que as fêmeas selecionam para ter suas crias, pois acreditam que, por serem mais fortes, darão filhos mais fortes, uma lei de sobrevivência na selva. Entre nós, que não somos selvagens, o termo é cunhado para realçar essa ideia de há um homem que se destaque entre os homens (um homem mais homem)... geralmente associado à questão machista, porque ele “vence os demais para conquistar a fêmea” e a fêmea, é claro, passa a ser “sua”. O sentimento de posse no homem é um sentimento machista. A mulher não pertence ao homem, estamos lutando pela igualdade de gênero.

Puxada de quimono!
Aliás, eu também gosto de UFC... Adoro ver aqueles homens se esfregando e se socando no chão, ou dando pernadas e pesadas na cara do outro; agarrões, pés, pernas, músculos... Tudo é muito excitante! Mas fico angustiado quando um deles leva muita porrada, ficando com a cara toda dilacerada... E tenho a sensação de que são corpos bem sarados, malhados, bonitos e gostosos, a serviço da violência desnecessária. Na verdade, qual o verdadeiro significado do UFC? Homem provando que é mais homem que o seu adversário, na base da porrada??!! Prefiro mesmo o judô de competição, que se vence por puxões no quimono...

“Eu sou heterossexual, gosto do azul, apaixonado por futebol, apaixonado por artes marciais, já fui "pegador" quando adolescente, tenho um pai machista... e, ao mesmo tempo, uma das pessoas que mais admiro e que influenciou muito em minha vida, é gay (um tal de "O Homem na Garrafa"), acho que é o homem que tem que pagar o jantar romântico, acho que é o homem que tem que pagar o motel, tenho repúdio à estupradores...”

Novamente não podemos confundir as coisas: gentileza gera gentileza. Pagar uma conta pode ter dois lados. Se convido alguém (seja minha namorada, esposa, etc. ou um amigo, ou minha mãe), decido pagar a conta por gentileza. Porém, pagar a conta não é obrigação do homem. Se uma mulher ganha mais do que o marido, não há problema algum se ela pagar a conta. É preciso equilíbrio. Se o homem ganha pouco e tem que pagar a conta da mulher, que ganha muito muito mais que ele, ele ficará sem dinheiro... e ela? Guardando o dinheiro? Ou gastando só com ela? É preciso ter muita consciência do que se faz pelo outro. O ideal é a sensatez mesmo, ou, em última instância, cada um que arque com sua própria despesa.

Vale lembrar que pagar todas as contas da mulher era uma obrigação do homem na época em que mulher não trabalhava fora e dependia dele... Homem não aceitar que a mulher pague hoje em dia é ficar amarrado numa estrutura social ultrapassada. Porém, se você acha que isso é o que deve ser, ninguém vai te recriminar por fazer (só recriminam quando é a mulher quem paga). Aliás, as mulheres adoram... eu também adoraria que alguém pagasse as minhas contas...

Acho que repúdio a estupradores toda a sociedade (que não é estupradora) tem.

“O estuprador irá estuprar, sendo ele educado ou não, ela estando de roupa curta ou longa, sendo ele machista ou não, havendo punição ou não. O estuprador irá estuprar, porque ele é ruim.”


Exatamente. Mas, se ele tivesse tido uma educação mais flexível, bem orientada, menos machista, haveria a possibilidade de ele aprender que quando não se pode impor o seu desejo sexual a quem quer que seja.

“Enquanto a abordagem a este tema for relacionada à forma de acabar com o estupro, nada será efetivo, pois isso, infelizmente, não acontecerá. Quando a abordagem for relacionada a maiores punições, a maiores denúncias por parte da vítima... aí sim, teremos algo efetivo.”

Sim, punição severa para eles! Porém, uma proposta de educação, principalmente daquela primeira formação (a dos pais), somada a um projeto organizado para uma mudança de mentalidade, como fez o movimento feminista com relação aos direitos das mulheres, seria muito mais efetivo.

“Em tempo, sei que sua publicação não é relacionada ao estupro diretamente, mas a leitura me levou a este tema.”

Isso mesmo, não quero ficar falando de estupro, mas tentando aconselhamentos sobre a possibilidade de novas formas de masculinidade, a quem interessar possa!

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Como se forma (equivocadamente) um homem

O Incrível Hulk!
Embora não seja a única, uma das piores coisas na sociedade contemporânea, a meu ver, é a síndrome do macho, como já mencionei aqui. Ela é capaz de destruir convívios sociais, condenar o que é diferente (porque é narciso), agredir violentamente – simbólica ou fisicamente – além de estar em desarmonia com as propostas evoluídas de igualdade de gêneros. Porém, esse perfil de masculinidade parece estar cada vez mais em voga nos dias atuais… Por que será?


A resposta exata, não sabemos, nem temos como verificar, visto que é muito ampla. Mas podemos ao menos tentar entender como se forma.

Sapatinhos de menino
O início é a própria casa, a família, isto é, o primeiro meio com a qual uma criança tem contato. Antes mesmo de nascermos, já nos impõem a cor azul. Se, porventura, um menino prefere a cor rosa, fará mobilizar seus pais , que tentarão convencê-lo de que rosa é cor de menina… Outro aspecto na primeira infância é o jeito do menino, se ele começa a se comportar de modo menos másculo, a mãe surta – porque projetou no filho “homem” toda a frustração que teve com os homens ao longo de sua vida e tenta fazer dele o homem que idealizou – o pai surta – porque não quer ver o filho associado a uma figura feminina (seja gay efeminado, seja mulher, seja transgênero), figura que repudia por conferir à feminilidade um status inferior, ferindo suas relações de poder. Ambos, pai e mãe, se empenham para que o menino tenha “modos de menino”, comprando-lhe brinquedos masculinos – como carros, bolas, robôs –; vestindo-o de forma apropriada (segundo o julgamento dos pais) – com calças e shorts –; estimulando a macheza – cobrando namoradas (mesmo no jardim de infância), congratulando euforicamente cada vez que surge uma menina como possível paquera, desestimulando atitudes contrárias ao desejado, dizendo que “isso não é coisa de menino”…

Meninos jogando bola
Depois vem o segundo momento, o meio com o qual o menino vai interagir: a escola. A escola reforça os padrões trazidos de casa. No Brasil, recentemente, tivemos episódios de ódio contra a tentativa de fazer com que a escola fosse livre de homofobia. Enfim, caberia à escola educar para uma diversidade, mas, ao contrário, acabam por reforçar os papéis da mulher e do homem. A distinção fica nítida na hora do recreio, em que meninos e meninas automaticamente se separam, e se um menino prefere não brincar de bola, ou de luta, está fadado ao bullying.

Na adolescência, a busca pela aceitação pela turma faz com que se tenha reações exageradas na hora de torcer pelo futebol. Vibramos com os punhos em riste, num gesto de virilidade, no momento do gol! É praticamente uma cerimônia de iniciação, um rito de passagem: há de se torcer ferozmente, se não, não se é homem o suficiente! Há de se “pegar” muita mulher! Há de se ser galinha! Daí, mais adiante na vida, o caminho só vai se agravando.

UFC
Mas nem tudo é culpa só dos homens. Somos, o tempo inteiro, bombardeados com pletoras de macheza. Seja no comercial de cerveja, seja na campanha do desodorante, seja nos personagens de novela. A clássica luta de boxe, quase desaparecida, volta à tona com força total em novas lutas, no formato UFC/MMA e outras lutas (jiu-jitsu, muay thai, etc.). A exacerbação da masculinidade é representada por todos os lados, de todas as formas, enquanto há uma ausência de (ou ocorre raramente) qualquer outro tipo de representação para o homem, como a do homem delicado e gentil, não adúltero. É como se o homem só pudesse existir na macheza! O homem que escapa disso, ou vive tendo que comprovar que é homem de verdade, ou assume para si que não te
m que dar satisfação.

Busto de Hércules
Essa imposição à macheza não é de hoje. Ocorre desde sempre, basta pensarmos nas epopeias e tragédias greco-romanas, cujos personagens (Ulisses, em Homero; Édipo-rei, de Sófocles; os poderes de Hércules, a força de Sanção, etc.) sempre trouxeram uma carga de macheza e virilidade como característica de suas personalidades, como convém à estrutura narrativa de um herói.

As histórias do homem das cavernas, a quem a valentia era necessária para que pudesse sair para caçar e trazer o alimento, é o mito mais falacioso que conheço. Se fosse assim, quem protegeria as mulheres e as crianças do tigre dente de sabre que viria à caverna atrás de saciar sua fome??!!

Hoje, por meio das novas representações na grande mídia, ou com a organização (governamental ou não) social para fins de orientação, ou com a conscientização e mudança de mentalidade desde a formação dos pais que educam em casa até a sociedade como um todo que acolhe esse homem, poderíamos registrar uma outra história que não fosse virulenta, que fosse mais gentil.

Mas eu não acredito que isso venha a acontecer algum dia... O que, infelizmente, nos mantém nessa arapuca que criaram para nós, da qual não conseguimos nos desvencilhar.

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Dica de leitura: Contos de Amor Rasgados

capa do livro
O texto que me serviu de estímulo para questionar a posição do homem na pós feminismo foi o Contos de Amor Rasgados, da Marina Colasanti. Fiquei impressionado com a forma como a autora construía, na década de 80 (o livro foi publicado em 1986), a imagem da mulher. Tendo participado da constituinte que culminou com as mudanças na Constituição de 1988, em que muitas reivindicações do movimento feminista foram incorporadas, tendo escrito coluna diária de resposta às cartas de leitoras em jornal de grande circulação, Marina Colasanti publica um livro de contos que contrariaria os ideais feministas.

À época, era de se esperar que se construísse uma imagem de mulher independente financeiramente, trabalhadora, com boa autoestima e autossuficiente, pois essa representação de mulher ainda não existia. Mas os contos refletiam outra realidade. Em vez de imagem positiva, as mulheres foram narradas de forma submissa, sempre cedendo aos maridos/namorados/amantes. Embora haja poucas exceções, a maioria dos contos tematiza casal em relacionamento conturbado, que não deu certo. Pelo título, já desconfiamos do estratagema quando a autora mescla duas expressões – contos de amor e amor rasgado (gíria da época que significava viver amor intenso com total entrega) – em uma expressão reveladora de que são os contos, que são de amor, é que são rasgados, não o amor.

O livro foi como um soco na boca do meu estômago, de forma tão profunda que serviu de corpus para minha pesquisa de mestrado. Acho que todo homem deveria ler. Se você ainda não leu, não deixe de ler; ele é, ao menos, impactante. Os contos são míni, muitos não chegam a preencher uma página, o que facilita a leitura rápida que nos é exigida nos dias de hoje. Deixo aqui uma amostra para degustação:
Para que ninguém a quisesse

        Porque os homens olhavam demais para a sua mulher, mandou que descesse a bainha dos vestidos e parasse de se pintar. Apesar disso, sua beleza chamava a atenção, e ele foi obrigado a exigir que eliminasse os decotes, jogasse fora os sapatos de saltos altos. Dos armários tirou as roupas de seda, das gavetas tirou todas as jóias. E vendo que, ainda assim, um ou outro olhar viril se acendia à passagem dela, pegou a tesoura e tosquiou-lhe os longos cabelos.
        Agora podia viver descansado. Ninguém a olhava duas vezes, homem nenhum se interessava por ela. Esquiva como um gato, não mais atravessava praças. E evitava sair.
        Tão esquiva se fez, que ele foi deixando de ocupar-se dela, permitindo que fluísse em silêncio pelos cômodos, mimetizada com os móveis e as sombras.
        Uma fina saudade, porém, começou a alinhavar-se em seus dias. Não saudade da mulher. Mas do desejo inflamado que tivera por ela.
        Então lhe trouxe um batom. No outro dia um corte de seda. À noite, tirou do bolso uma rosa de cetim para enfeitar-lhe o que restava dos cabelos.
        Mas ela tinha desaprendido a gostar dessas coisas, nem pensava mais em lhe agradar. Largou o tecido numa gaveta, esqueceu o batom. E continuou andando pela casa de vestido de chita, enquanto a rosa desbotava sobre a cômoda.

In: COLASANTI, Marina. Contos de amor rasgados.
Rio de Janeiro: Rocco, 1986, pág. 111-112.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

A Síndrome do Macho

Decidi ressuscitar o blog porque ando muito inquieto com os episódios recentes daquilo que chamo “Síndrome do Macho”, a partir do qual, num viés mais acadêmico, venho analisando o ethos de hipermasculinidade.

Peço desculpas aos especialistas em medicina ou psicologia, uso o termo “síndrome” numa acepção popular, da doxa, sem qualquer conotação científica, já que não estou qualificado nessas áreas. Mas, sendo uma palavra – e a minha área de estudos é a linguagem –, me aproprio de “síndrome” com o significado simples que nos revela o Aurélio: aquele conjunto de sintomas ou sinais associados que podem ser produzidos por uma ou mais causas, por uma alteração genética, ou por uma condição crítica, que pode despertar reações diversas.

Estereótipo do macho
Veja - Caçadores de Neura em Funk Ostentação no Youtube
Assim, chamo de Síndrome do Macho aquela capacidade que determinados homens têm de reagir de forma inapropriada às questões do homem contemporâneo – um homem que precisa ocupar os espaços que lhe foram abertos, novas oportunidades que lhe foram oferecidas, mas que uma boa parte deles – os chamados machistas – rejeita a qualquer custo. Esse dito machista vive num limbo social por não entender que não estamos mais numa sociedade tradicional conservadora como antes (mesmo a tradição conservadora mudou, embora não pareça), não se adequando às novas formas de existência no mundo.

Hoje, o homem é chamado a participar daquilo que, antes, era chamado de “coisa de mulher”: o cuidado com a casa e com os filhos. Apesar de existirem iniciativas que discutem o fato de que Eles também criam e a questão para a Nova masculinidade, duas matérias publicadas pelo jornal espanhol El País, a resistência é grande e ainda há muito caminho a seguir na discussão para uma mudança de mentalidade. O fato é que essa resistência é resultado, sintoma, da síndrome do macho.

Ao meu ver, essa síndrome – e sua variação, a Síndrome do Macho-Alfa (basta olharmos para o recente aumento dos relatos de estupro) – é a responsável por grande parte da violência no mundo. Como nunca fui dado a arroubos de supermacho, sofri (e ainda sofro) com sua violência. Vejo mulheres e muitas minorias (incluindo aí os homens delicados e gentis) sofrerem com a violência. Mas não é meramente uma violência física, aquela visível e explicável. É uma violência no nível do simbólico, que corrói as esperanças, destrói autoestimas, tolhe direitos, subjuga e domina. Quando se percebe, já fomos emaranhados e estamos preso na arapuca armada com disfarces de naturalidade e de normalidade.

Para que o mundo melhore, seja menos violento, precisamos buscar um novo paradigma de masculinidade, que não almeje a dominação e o poder (se é que isto seja possível) - é preciso formas mais amenas de dominação e poder... As estruturas atuais já não cabem mais.

E vamos à luta! A minha, vem pela exposição de minhas ideias.

Blog de roupa nova

Dando uma organizada por aqui, para começar uma nova fase. Retornarei com um post por semana, para ter um mínimo de fôlego.

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Véspera de tempos chuvosos


Ponte Rio-Niterói, segunda-feira, dia 16 de maio de 2016, sentido Rio de Janeiro. O céu em chamas sobre o Rio não tem a menor ideia dos tempos chuvosos que estão por vir... Hoje, quarta, a chuva lá fora dá o tom sombrio da crise do Estado, de que nada se sabe além de declarações escusas na  mídia escusa.

Pessoas insanas se digladiando em vez de se unirem, anarquismos controlados por sabe-se lá quem, gritos de socorro por quem sofre a violência diária, crimes de todos os tipos! Que futuro é esse que nos espera? Quanto tempo levaremos para voltarmos a apreciar os céus do Rio, além do mar, da paz e de nosso estado de espírito?!

Já está passando da hora de revertermos esse quadro!