sábado, 12 de março de 2011

Mensagem na Garrafa

Naufragado, esforçou-se em viver numa ilha distante. Distante das pessoas que o aborreciam, distante das coisas mundanas. Muitas garrafas surgiam do mar, todas sempre com algo dentro: umas algas, umas manchas de óleo, uns grãos de areia. Um dia surgiu boiando uma garrafa vazia, que desperdício!, pensou. Num ato de revolta, entrou na garrafa, forçando-a para o lado, atirando-a ao chão, fazendo-a rolar até a praia.




Lançou-se assim ao mar, destemido, à mercê de quem o encontrasse. Os dias foram longos e quentes; e as noites, escuras e frias; o mar gritou-lhe aos ouvidos, bateu, gemeu, estraçalhando-lhe os nervos. O oxigênio não era suficiente para tão longa viagem. Sofregou.


Quando, enfim, atingiu a outra margem, mantiveram-no ainda alguns dias preso, por questões fronteiriças. Seu corpo já doente não resistiu, e feneceu.


Dias depois, ao tirarem o lacre da garrafa, sua massa corporal havia se transmutado em folhas de papel, que traziam a derradeira mensagem: "SOS, naufraguei no auge da minha vida, não me deixem morrer à míngua. Viver aí é ruim, mas a solidão daqui é muito pior".




Até hoje não foi encontrado qualquer outro vestígio de sua existência.

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