Andava curvada, apoiando numa das mãos um cajado firme que lhe servia de terceira perna. Na outa mão, carregava um banquinho de lona dobrável, leve, para se sentar toda vez que as pernas já decrépitas lhe cansassem, ou falseasse. Andava sempre para frente, devagar e constantemente. Os olhos no chão, a cuidar por onde fincava o cajado, não lhe permitia enxergar muito à frente ; via apenas o que seu campo de visão restringido pelo tempo permitia alcançar.
Não ver à frente podia lhe causar grandes danos, mas ela jamais perceberia o perigo, porque sua visão, curta, lhe embotava a mente. Seguia sempre em frente, sem mudar de rumo, mesmo se fosse para tomar um caminho melhor. Os olhos no chão lhe garantiam enxergar seus passos, seus valores, seus temores, preferia manter-se ali, caminhando com uma segurança que só ela mesma podia se dar.
Um dia de nevoeiro, sombrio, com redemoinhos e rajadas , um vento bateu-lhe de lado, levando o cajado e o banco . Em pé, firmada sobre suas pernas vacilantes, não resistiu, caiu no chão intolerante e cruel, áspero e frio. E naquele instante mesmo desviveu.
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